Esta Senhora não foi devidamente formatada. Coitada!!!
Fui até uma das portas do mundo, e expus a minha situação ao porteiro:
- Sr. Porteiro preciso que abra a porta para eu sair.
Eu preciso parar. Eu sei que o mundo continua a girar, mas eu estou a sufocar. Tem de me deixar sair.
- Ora essa?! Precisa parar?!
Não está atenta aos noticiários? Não sabe que a economia não permite paragens?
- Sim, eu sei que não. Mas eu preciso sair, estou doente, preciso parar, preciso saber quem sou eu neste momento.
Ajude-me por favor! Eu voltarei a entrar.
- Hmmm... como estamos numa época natalícia está com sorte. Sim, porque eu já percebi que ocorreu um erro, a Senhora não foi devidamente formatada.
Vá! A porta está aberta. Quando quiser voltar é só tocar à campainha.
Mas depois não se queixe, já sabe que o mundo penaliza este tipo de comportamentos.
- Obrigada! Terei de entrar e sair várias vezes, porque tenho de continuar a garantir algumas das minhas obrigações para com o mundo.
- Acho bem que cumpra o mínimo. E digo-lhe, desde já, que isto é uma excepção. É uma situação que não se pode prolongar por muito tempo.
Desci as escadas do mundo, e fui sentar-me numa pedra que estava mesmo em frente.
Desde então, venho com muita frequência sentar-me nesta pedra, para reflectir sobre mim e sobre o mundo que me pôs doente.
Ano de 2015
Um mensageiro, veio ter comigo e atirou-me para os braços uma bomba, com a seguinte mensagem:
"Apesar desta bomba poder explodir a qualquer momento, tem o rastilho a arder e pode demorar uns meses até explodir."
Os dedos de uma mão chegaram, e sobraram, para contar os meses até que a explosão acontecesse.
Ano de 2016
Numa infeliz e inexplicável coincidência:
Um outro mensageiro, veio ter comigo e atirou-me para os braços uma bomba, com a seguinte mensagem:
"Apesar desta bomba poder explodir a qualquer momento, tem o rastilho a arder e pode demorar uns meses até explodir."
E mais uma vez, os dedos de uma mão chegaram, e sobraram, para contar os meses até que a explosão acontecesse.
Fiquei órfã. Eu sinto-me órfã..., o mundo ficou em silêncio.... Sim eu sei, que só as crianças ficam órfãos, mas é assim que me sinto.
Uma tristeza e uma dor inexplicável habita cada uma das minhas células. A minha vida é diferente...., eu mudei..., já não sou a mesma pessoa, há demasiadas equações na minha cabeça. Neste momento, preciso saber quem sou e o que quero para mim.
Precisei parar. E parei. Mas sou criticada: "é fraca"; "coitada"; etc.
Critiquem-me, penalizem-me... Quando regressar, enfrentarei tudo o que tiver de enfrentar.
Não me interessa o que pensam "pessoas formatadas", pessoas vazias de si.